Conversamos muitas vezes por aqui sobre as possibilidades de cura do câncer, principalmente sobre a importância da prevenção para a detecção precoce da doença.
Afinal, essa é a melhor forma para garantir o tratamento adequado do câncer, potencializando as chances de cura.
Hoje, gostaria de tocar num outro ponto pouco discutido: a vida após o câncer.
Em minha experiência profissional, mesmo diante do tratamento efetivo e/ou da cura, este é um momento de muitas incertezas e até mesmo medos, uma vez que o processo de luta contra o câncer pode ser transformador.
É claro que, de uma forma geral, vencer o câncer traz um saldo positivo na vida do paciente. É perceptível como essa conquista o engrandece, renovando sua fé, seus ânimos, suas perspectivas para o futuro.
Por isso, antes mesmo de falarmos sobre os desafios dessa fase, já gostaria de dar uma dica: esses bons sentimentos devem ser usados como motor para driblar possíveis obstáculos.
O que costuma ocorrer pós-tratamento é uma retomada daquilo que muitas vezes chamamos de "vida normal". Isto é, a rotina em seus detalhes, como trabalho, relacionamentos, obrigações em geral. Porém, algumas coisas podem ser modificadas nesse processo.
É bastante frequente que a pessoa pause sua carreira para dedicar-se ao câncer, por exemplo. Mesmo que não se desligue de seu trabalho, acaba suavizando o ritmo e/ou ficando um período ausente, o que faz com que o retorno possa ser desafiador.
Diversas atividades, como práticas artísticas e de esporte, por exemplo, também podem passar por esse impacto, e representam um recomeço para o paciente. Daí o medo de esquecer habilidades, a percepção de um novo "ritmo", a mudança de cenários etc..
Porém, como disse acima, é muito importante deixar que os bons sentimentos, como a gratidão e a alegria, nos invadam. Olhar as situações desafiadoras como aprendizados, como novas chances de sermos versões ainda melhores de nós mesmos, ao invés de enxergá-las como tribulações, mudam o contexto do que vivemos.
Afinal, para quem venceu uma imensa batalha, o que é apenas um simples obstáculo?
Além da retomada da vida convencional, é comum que o paciente fique com alguns medos de se esforçar, de se arriscar e de fazer atividades que julga mais intensas, mesmo quando não há limitações físicas.
É realmente crucial seguir as instruções médicas de cada caso: ou seja, não abusar dos limites do organismo, tampouco expor-se a situações potencialmente arriscadas.
Porém, há uma vasta gama de coisas prazerosas e divertidas que todos os pacientes podem fazer - durante e depois do tratamento.
O isolamento social, o sedentarismo e o medo não "jogam a favor" da pessoa que se curou do câncer. Muito pelo contrário, são condições que podem desencadear quadros depressivos e outros problemas para o paciente.
É interessante pensar que devemos respeitar a integridade do nosso corpo nessa fase, mas também a felicidade deste e da mente!
Por fim, mas não menos importante, vale lembrarmos que durante o tratamento a pessoa fica por muito tempo dedicando-se a si mesma - emocionalmente falando, é este o seu foco. E deve realmente ser.
Porém, quando esta etapa passa, é usual que ele se sinta "perdido" em seus relacionamentos, com a sensação de que não sabe mais o que está ocorrendo em sua família, em seu grupo de amigos e afins. Nesse momento, é importante falar abertamente sobre suas sensações e impressões para que, junto das pessoas que você ama, consiga reintegrar-se com calma e muito amor!
Quem venceu um câncer sabe que qualquer dificuldade é passageira.
Se você se encontra aflito, assustado ou impaciente, lembre-se de toda a luta até aqui. Conte com o apoio das pessoas de sua confiança e, caso sinta necessidade, busque ajuda profissional, como um psicólogo ou psiquiatra.